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16 de Abril de 2024

Rachel Sheherazade: Ordem ou barbárie?

há 10 anos

Rachel Sheherazade Ordem ou barbrie

O fenômeno da violência é tão antigo quanto o ser humano. Desde sua criação (ou surgimento, dependendo do ponto de vista), o homem sempre esteve dividido entre razão e instinto, paz e guerra, bem e mal.

Há quem tente explicar a violência, a opção pela criminalidade, como consequência da pobreza, da falta de oportunidades: o homem fruto de seu meio. Sem poder fazer as próprias escolhas, destituído de livre-arbítrio, o indivíduo seria condenado por sua origem humilde à condição de bandido. Mas acaso a virtude é monopólio de ricos e remediados? Creio que não.

Na propaganda institucional, a pobreza no Brasil diminuiu, o poder de compra está em alta, o desemprego praticamente desapareceu... Mas, se a violência tem relação direta com a pobreza, como explicar que a criminalidade tenha crescido em igual ou maior proporção que a renda do brasileiro? Criminalidade e pobreza não andam necessariamente de mãos dadas.

Na semana passada, a violência (ou a falta de segurança) voltou ao centro dos debates. O flagrante de um jovem criminoso nu, preso a um poste por um grupo de justiceiros deu início a um turbilhão de comentários polêmicos. Em meu espaço de opinião no jornal "SBT Brasil", afirmei compreender (e não aceitar, que fique bem claro!) a atitude desesperada dos justiceiros do Rio.

Embora não respalde a violência, a legislação brasileira autoriza qualquer cidadão a prender outro em flagrante delito. Trata-se do artigo 301 do Código de Processo Penal. Além disso, o Direito ratifica a legítima defesa no artigo 23 do Código Penal.

Não é de hoje que o cidadão se sente desassistido pelo Estado e vulnerável à ação de bandidos. Sobra dinheiro para Cuba, para a Copa, mas faltam recursos para a saúde, a educação e, principalmente, para a segurança. Nos últimos anos, disparou o número de homicídios, roubos, sequestros, estupros... Estamos entre os 20 países mais violentos do planeta. E, apesar das estatísticas, em matéria de ações de segurança pública, estamos praticamente inertes e, pior: na contramão do bom senso!

Depois de desarmar os cidadãos (contrariando o plebiscito do desarmamento) e deixá-los à mercê dos criminosos, a nova estratégia do governo, por meio do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, é neutralizar a polícia, abolindo os autos de resistência.

Na prática, o policial terá que responder criminalmente por toda morte ocorrida em confronto com bandidos. Em outras palavras, é desestimular qualquer reação contra o crime. Ou será que a polícia ousará enfrentar o poder de fogo do PCC (Primeiro Comando da Capital) ou do CV (Comando Vermelho) munida apenas de apitos e cassetetes?

Rachel Sheherazade Ordem ou barbrie

Outra aliada da violência nossa de cada dia é a legislação penal: filha do "coitadismo" e mãe permissiva para toda sorte de criminosos. Presos em flagrante ou criminosos confessos saem da delegacia pela porta da frente e respondem em liberdade até a última instância.

No Brasil de valores esquizofrênicos, pode-se matar um cidadão e sair impune. Mas a lei não perdoa quem destrói um ninho de papagaio. É cadeia na certa!

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), o Estatuto da Impunidade, está sempre à serviço do menor infrator, que também encontra guarida nas asas dos direitos humanos e suas legiões de ONGs piedosas. No Brasil às avessas, o bandido é sempre vítima da sociedade. E nós não passamos de cruéis algozes desses infelizes.

Quando falta sensatez ao Estado é que ganham força outros paradoxos. Como jovens acuados pela violência que tomam para si o papel da polícia e o dever da Justiça. Um péssimo sinal de descontrole social. É na ausência de ordem que a barbárie se torna lei.

RACHEL SHEHERAZADE, 40, jornalista pela Universidade Federal da Paraíba, é âncora do telejornal "SBT Brasil"

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/02/1410284-rachel-sheherazade-ordem-ou-barbarie.shtml

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/rachel-sheherazade-ordem-ou-barbarie/113095503

113 Comentários

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O Brasil dos poetas não deu certo. Os juristas que criaram direitos e obrigações reais, diretamente do mundo das ideias, esqueceram que a realidade é bem diferente. Talvez tenha faltado um pouco de empirismo científico, conhecimento de estatísticas, ou de uma legislação mais adequada ao nosso contexto social, político, institucional e econômico (não somos a França nem a Noruega, estamos mais para El Salvador)...
É fato que a criminalidade chegou a níveis intoleráveis, e é fato estatístico que não irá mudar nos próximos anos.
Milhares morrerão agitando a bandeira da paz, pugnando pelo salvação do ECA e da juventude pelo amor... Acho que já passou da hora de termos um pouco mais de "vigiar e punir". Pois infelizmente, o cumprimento das utopias do ECA necessitaria de instituições fortes, bem como recursos que nossa economia não dispõe, nada alcançável nas próximas décadas.
Concordo com a jornalista. Sobretudo concordo e defendo o direito dela expressar sua opinião, inclusive da articulista. continuar lendo

concordo com você e com ela. continuar lendo

Perfeito. O ECA é uma obra de arte bonita na parede, longe do mundo prático. Chega da utopia dos nossos pseudos juristas brasileiros que á décadas de hipocresia nada fizeram para diminuir a violência no pais. continuar lendo

O Brasil dos sonhos não existe e tão cedo existirá...
Nossa legislação, principalmente, a processual é decrépita. Se falarmos especificamente da legislação penal, precisaremos de muita engenharia jurídica para adequá-la aos tempos modernos.
A CF é uma verdadeira colcha de retalhos, que já foi remendada quase uma centena de vezes, e continuará sendo remendada por sua falta de coerência.

Aproveitando-se da inoperância do Estado e a leniência com que o ECA trata as infrações da menoridade, os bandidos utilizam-se dessas facilidades e arregimentam menores, que transformando-os larápios profissionais sem dó nem perdão. Assim, nada mais justo a sociedade utilizar-se dos meios legais, inclusive a LEGÍTIMA DEFESA, como dispõe o Código Penal. O Estado continua inerte e as pessoas (TODO TIPO DE PESSOA) estão sofrendo com isso, portando, é bom o Estado fazer uso da autoridade que lhe é investida e tomar as providências necessárias para que não viremos o mais violento dos países, e onde não se faça uso da Lei de Talião.
A Rachel está certa... continuar lendo

Aproveitando o espaço democrático respeito suas ideias, mas tenho o dever de discordar do colega em vários pontos. Não por ser um admirador da Rachel desde quando ela trabalhava na TV Tambaú aqui na minha cidade, não só pelo profissionalismo e brilhantismo de seus comentários, mas, principalmente expor para toda a sociedade brasileira os sentimentos, angústias e desejos da maioria do povo brasileiro (excluem-se, alguns políticos, algumas ONGs e outros que se aproveitam do caus). Primeiramente, em nenhum momento a jornalista cita que a polícia aja de forma “que bem entende”. A polícia hoje, mesmo cumprindo sua função constitucional está sob severa fiscalização de órgão oficiais ou não, e principalmente da sociedade, mais até que qualquer baderneiro que vemos nessas manifestações. Policiais são pais e mães de família que tem a obrigação de garantir os direitos consagrados na nossa Carta Magna, tais como a propriedade, a integridade física, mas não lhes é dado qualquer garantia da sua própria integridade. Com leis ultrapassadas e mal formuladas, pra não dizer tendenciosas deixam a polícia numa “sinuca de bico”, pois se deixa de agir é ineficiente e omissa, se age não há leis que lastreiem suas ações. Como você bem falou, nos EUA a máquina pública funciona. Por que será que lá policiais conseguem prender (em alguns casos) sem a necessidade de disparos de arma de fogo? Respondo: equipamento e treinamento adequados, leis eficientes, justiça eficiente, policiais amparados e investidos pelo poder Estado. Realmente não precisaria atirar em um “manifestante” armado com estilete, paus, pedras, coquetéis molotov, rojões, etc. se este soubesse que o descumprimento de uma ordem ou pior uma agressão a uma autoridade do estado (policial) o levaria por anos a uma prisão. Sou totalmente a favor de manifestações, mas infelizmente muitos confundem reinvidicação de direitos com baderna e anarquia. continuar lendo

Concordo, exceto a parte de "recursos que nossa economia não dispõe", acredito que haja recursos o que não há é interesse nas mudanças, tanto por parte dos poderes como pela população que se beneficia disto. continuar lendo

Você e ela, disseram absolutamente tudo o que está engasgado na garganta do povo brasileiro, que não aguenta mais ser caçado, todos os dias, por estas bestas feras do crime! continuar lendo

Parabéns a Jornalista Rachel Sheherazade - é cediço que falar o que se pensa, pode resultar em morte. Afinal, o homem é escravo do que fala e servo do que cala. - Beccaria foi um destes, foi perseguido pela elite do poder por querer humanizar as penas. - Idealizou que para haver a plena recuperação do culpado, os legisladores deveriam usar o coração, ou seja: fazer leis com amor e não com a emoção. - Hoje, a jornalista sofre na péle o que é falar a verdade, haja vista, estar coberta de razão, pois a humanidade ainda não saiu da 2ª fase das penas - a Vingança privada. - O que mais dá dinheiro hoje é o crime. - Os apresentadores mais ricos da televisão são os que fazem do crime um modus vivendi. - Os radialistas - Os jornais , enfim, todos ganham a vida honestamente, mas o fruto do seu labor é o crime. - Sem falar naqueles que vivem a vida diretamente dele. - A sociedade tinha que proteger a jornalista Rachel e não querer em nome da Lei - cortar a cabeça da nobre jornalista. - Quem fala mal, fala porque não sabe diferenciar o que é Direitos do Homem e Direitos Humanos, quem sabe que se soubessem parassem de falar tanta coisa infundada e com isso querer colocar uma excelente profissional no banco dos Réus! continuar lendo

Legal o seu comentário. Bem equilibrado. continuar lendo

Parabéns pelo comentário!! continuar lendo

Precisamos de mais reporteres que falem o que pensam, assim como a RACHEL SHERAZADE!

Chega de imprensa mediocre, reporteres que sentam atras de uma bancada e simplesmente retransmitem o pensamento burgues da emissora!

Com a morte do reporter, é provável que saiam da zona de conforte que se encontram hoje e comecem a ser exercer a profissão com a sinceridade e coragem que esta exige!

Parabéns Rachel Sherazade! continuar lendo

Concordo em alguns pontos com a jornalista mas abomino qualquer livre ação da policia ao combate dos crimes, pois aqueles que agem conforme criminosos criminosos são, pois enquanto a policia puder fazer o que bem intende vamos continuar sofrendo com balas perdidas e enganos por parte daqueles que representam o Estado e deveriam nos defender, muitos podem dizer que isso é impossível que só a violência gera compreensão, então o que devemos dizer as forças policiais americanas que conseguem neutralizar os criminosos sem ao menos um tiro ser deflagrado será que eles são melhores que nós possuem educação?Creio que não , felizmente la a maquina pública funciona, e funciona em prol do povo pois é ai que se encerra o sentido do estado de direito. continuar lendo

Concordo que a polícia agindo como criminosos, criminosos serão!

Quando um policial atira em alguém, ele se torna o juiz do caso, e a bala de sua arma é a sentença. Mas aí, eu pergunto: Que autoridade o policial tem pra julgar alguém? Quem o instituiu como juiz e quem permite que ele sentencie, sendo culpado ou inocente, quem quiser? continuar lendo

Isaac Silva, no seu comentário você mesmo traz a resposta aos paralelos existentes entre a polícia brasileira e a polícia americana, no ponto onde você afirma: "lá a máquina pública funciona, e funciona em prol do povo". Brilhante Issac Silva. Onde a MÁQUINA PÚBLICA funciona não é preciso que a polícia tenha que trocar tiros o tempo todo com bandidos perigosíssimos como ocorre no Brasil, onde, inclusive, quando ocorre a morte de um bandido bonzinho, mobiliza-se todos os organismos de direitos humanos do governo, das ONG's, etc. etc. Mas essa mesma mobilização não acontece quando uma criança é queimada viva dentro de um coletivo. Como é que você queria que a polícia agisse no Brasil? Que saísse correndo quando os bandidos atirassem? A polícia hoje é a instituição mais vigiada do Brasil, inclusive pelo MP que exerce o controle externo da atividade policial. E para piorar, estão querendo tratar como homicídio todos (todos) os casos de morte de BANDIDOS em troca de tiro com a polícia. PAÍS HIPÓCRITA. "De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto" (Rui Barbosa). Rachel, sei que você não deseja violência contra ninguém, mas simplesmente falou como alguém do povo num momento de indignação. continuar lendo

Otávio, talvez com o desarmamento dos policiais a criminalidade diminua e você possa transitar pelas ruas com mais segurança. Quando um policial atira sem necessidade, e após submetido ao devido processo legal, como ocorre com os bonzinhos bandidos, que esse policial seja punido. Agora, quando um policial atira em alguém, num confronto com bandidos armados, ele está no estrito cumprimento do dever legal, e em legítima defesa própria e de terceiros. Ao contrário, não seria necessário andarem armados. continuar lendo