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20 de Abril de 2024

Juiz diz que faz 'trabalho escravo' e quer receber por acúmulo de função

Ele declara não receber adequadamente por falta de magistrado substituto

há 10 anos

Publicado por Adriana Cruz e Daniel Pereira

Rio - O juiz Rogério Tobias de Carvalho, da 1ª Vara Federal de Niterói, bateu o martelo contra o que classifica como “trabalho escravo”. Em decisão publicada em Diário Oficial da União, ele alegou que não vai trabalhar “forçado” por causa da falta de um substituto. Por trás do comportamento do juiz está uma disputa dos magistrados federais para receber pelo acúmulo de função — ou seja, verba extra, como recebem os procuradores da República. Carvalho alegou ainda que só julgará ações com final de número par.

No início de setembro, a Associação dos Juízes Federais do Brasil fez uma consulta com 1.800 magistrados: 1.034 votaram por não acumular funções sem receber o pagamento. “Há uma revolta por não estarmos sendo incluídos no orçamento da União. Mas, quero deixar claro que os juízes vão atuar quando os casos forem de urgência”, explicou o presidente da Ajufe Brasil, Antônio César Bochenek.

Em média, um juiz federal recebe em torno de R$ 14 mil. Mas para justificar a sua atuação apenas em processos pares — para ele, os ímpares deveriam ser julgados por juiz substituto —, Rogério Tobias de Carvalho declarou que “a União se enriquece ilicitamente com o labor deste magistrado há anos, enquanto acumula acervos de forma graciosa, sem nenhuma remuneração ou indenização”.

Juiz diz que faz trabalho escravo e quer receber por acmulo de funo


Na decisão, o juiz defendeu que tem que receber verba extra quando trabalhar por dois. Carvalho entende que em questões urgentes, que envolvem risco à vida e à liberdade, o acúmulo é aceitável, mas justifica que o magistrado trabalhe sem receber por isso. “Nosso ordenamento jurídico, bem como tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, não admitem trabalho forçado, sendo tipificado como crime reduzir de alguém à condição análoga de escravo (artigo 149 do Código Penal)”.

Com 45 anos de profissão, o advogado Raimundo Januário tem causas paradas por conta da falta de um juiz substituto na 1ª Vara Federal de Niterói. Porém, mesmo com prejuízo para os seus clientes, ele diz que entende a atitude do magistrado Rogério Tobias de Carvalho.

“Foi um ímpeto, mas ele mostrou muita coragem. A função que exerce é de muita responsabilidade. Na maioria das vezes, o juiz federal acaba decidindo contra o governo. Toda esta demora da Justiça não é culpa dos magistrados, mas da falta de estrutura dos tribunais”, disse, Januário, acrescentando que a OAB deveria ser solidária ao juiz. Procurado por O DIA, Rogério de Carvalho não se pronunciou.

Associações querem veto a corte de orçamento de 2015

A Associação dos Magistrados Brasileiros, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho lutam no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender o corte da presidenta Dilma Rousseff na proposta de orçamento do Poder Judiciário para 2015.

“Não podemos ficar em situação de desvantagem”, argumenta o presidente da Ajufe Brasil, Antônio César Bochenek. Em nota, o Ministério do Planejamento informou que tem o dever constitucional de encaminhar até dia 31 de agosto o Projeto de Lei Orçamentária Anual. Além da proposta orçamentária do conjunto dos poderes da União, também foi enviada a íntegra da proposta elaborada pelo Poder Judiciário.

O pagamento do acúmulo de função dos juízes federais foi vetado pela presidenta Dilma no artigo 17 da lei 13.024/2014 — que estendia à magistratura federal o pagamento da gratificação.

Procuradores da República já recebem por acúmulo de função

A insatisfação com o salário impulsionou o juiz federal Rogério Tobias de Carvalho a criticar o Ministério Público Federal (MPF). “Por outro lado, é insustentável haver dotação orçamentária para pagamento de função coadjuvante à prestação jurisdicional, enquanto que para o exercício próprio desta, não”, escreveu o magistrado em decisão processual, referindo-se ao MPF.

Ele ressaltou no documento que “em 26 de agosto foi publicada a Lei 13.024, a qual institui gratificação por exercício cumulativo de ofícios aos membros do Ministério Público, instituição essencial à função jurisdicional do Estado; mas que atua numa fração mínima das ações judiciais afetas a este magistrado, na imensa maioria dos casos em caráter opinativo”.

Depois da longa defesa pelo direito de receber salário melhor, o magistrado suspendeu o andamento do processo até a chegada de um juiz substituto. Pelas contas de magistrados que pediram para não serem identificados, cada juiz que trabalhasse dobrado receberia mais R$ 5 mil.


Fonte: http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2014-10-10/juiz-diz-que-faz-trabalho-escravoequer-rec...

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211 Comentários

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Puxa! Pelo salário que um juiz recebe mais todas as mordomias, eu gostaria de ser escrava em vez de professora em escola pública. continuar lendo

Tânia Mara, realmente comparando o salário de um professor com o de um magistrado percebemos uma grande distorção. Não vou nem comparar as condições de trabalho. Situações como essa me fazem perceber que muitas vezes algumas injustiças são cometidas pelo próprio judiciário . E não há nenhuma perspectiva de mudança. Lamentável isso.

P.S.: sou professor também. continuar lendo

A Magistratura está aberta a todos, basta ter os requisitos, como em qualquer profissão. continuar lendo

Se é trabalho escravo porque ele não sai dessa e pega um trabalho melhor, tem alguma corrente nas pernas dele ? continuar lendo

Pois é Tânia, coisas do Brasil.
Não esqueça que os que se dedicam à advocacia - em todas as suas variáveis e nuanças - são os únicos que conseguiram LEGISLAR em causa própria sem que isso parecesse CORPORATIVISMO. Afinal eles assessoram os criadores das leis.
Graças a isso, salvo melhor juízo, é a ÚNICA PROFISSÃO na qual já está determinada uma CARREIRA, do início ao fim.
Basta participar - e ser aprovado claro - nos vários concursos oferecidos à profissão. continuar lendo

Tô contigo, o que a União deveria fazer é determinar 8 horas de trabalho para eles (juizes, promotores, etc. etc.... e ganhares um salário mínimo, para ver se é bom, também sou da área da educação, após 30 anos de trabalho, hoje aposentada, ganho 1.005,00 reais, que tal eles (povo do judiciário), ganharem o que eu ganho depois de dá uma vida. continuar lendo

Com todo respeito aos profissionais da educação, que precisam ser remunerados de forma mais justa com toda certeza (afinal sem eles os juízes não conseguem ser juízes e assim o é em qualquer profissão), entendo que os motivos que levaram o Juiz a tomar tal decisão também são nobres. Ser aprovado nesta carreira já é uma labuta que requer abdicação de tantas coisas e uma dedicação tão intensa, que só isso já justifica seu salário, mas a responsabilidade é imensa e a pressão que sofrem é gigante. Além disso, nenhum trabalhador acumula funções sem a respectiva contrapartida salarial. Se você contrata um vendedor e o solicita que ajude na limpeza da loja antes de abri-la, já está correndo o risco de responder a processo trabalhista. Reflitam sobre isso queridos professores. A causa de vocês é nobre, mas isso não tira a nobreza da causa dos juízes. continuar lendo

Acho muito engraçado como os advogados, de uma certa forma "defendem" este juiz, hoje, um professor com Pós-Doutorado, ganha o mesmo que os "recém-formados", em letras, obviamente estou me referindo a colégios públicos, e sabem por que? Este é um artificio que o governo usa, para professores, com mais conhecimento, se dediquem a faculdades e colégios particulares, desta forma, os menos preparados e com menos experiência (mas não sem a dedicação necessária), dão aulas, com medo de perder o emprego, sem falar nada exceto as HISTÓRIAS, que os livros contam, sem se quer ao menos muitas vezes, poder criticar ou até mesmo dar sua opinião sobre fatos que acontecem no diaadia, na política e educação; continuar lendo

Rene Correa, como funciona a carreira de advogado? continuar lendo

O desrespeito com as outras classes, não torna menor o desrespeito com a classes dos magistrados.Acredito que assim que conseguirmos o respeito igualitário entre as classes e parar com intrigas como "ah que ele mude""esta reclamando de barriga cheia" teremos uma verdadeira justiça social, o magistrado tem o meu total apoio pois, sei o quão concorrido é concurso para esta classe, e não se faz justiça social diminuindo o sofrimento do outro. continuar lendo

''Professora não é mal paga, é mal casada''

Pearl by Paulo Maluf. continuar lendo

Po meu! porque não vai estudar e se dedicar a outra profissão que não a de professora? Todos os podemos desde que sigamos os parãmetros necessários. se eu quisesse ser juíza teria estudado pra fazer concurso, óbvio! continuar lendo

E se todos os professores (as), fossem estudar para serem outra coisa, Juízes por exemplo, quem iria dar as aulas?? continuar lendo

Rene,
Praticamente todas as funções privativas do Estado (juizes, policiais, fiscais, etc.) têm carreiras estabelecidas. Não se trata de corporativismo, como voce diz, e sim proteção dessa carreira contra ingerências politicas. Mesmo assim, os juízes do STF são nomeados pela Presidência da República (o que, pessoalmente, considero um "furo" na teoria da independência dos poderes). Mais ainda, todas as Carreiras têm seus salários e benefícios aprovados em Lei (que é votada pelo Legislativo - representantes do povo). Portanto, quem dá esses salários a essas Carreiras é você, sou eu, somos todos nós, ao votarmos e elegermos nossos representantes... continuar lendo

Antes de falar isso, vc cursa Direito por 5 anos. Passa no exame da ordem, que em média só passam 15% e custa 200 reais. Depois vc advoga por no mínimo três anos, sendo quase que uma escrava de escritório e que te suga tanto que vc não tem tempo sequer para estudar. Depois vc, se tiver como alguém te bancar, estuda por 5 anos (como a juíza que é a minha chefe) e é realmente estudar entre 8 e 14h por dia e não tem vida social. Aí vc faz a prova e ainda reza pra passar. Aí vc faz as 5 etapas do concurso, inclusive o oral, cuja prova do TRT nenhum passou. Depois de passar, se em boa colocação, fica nas proximidades da Capital, mas se não vc vai pra algum lugar que sequer ouviu falar, onde não tem nada. Vive nessa cidade por uns 5 anos e recebe "promoção" pra ir pra algum lugar "mais próximo" da capital - ainda no meio do nada. Aí vc vive mais uns 5 a 10 anos e chega nas proximidades. Apenas após uns 20 anos no interior é q juiz vira substituto da capital sendo transferido todo mês para algum lugar e acumulando mais de uma vara, sem receber nada. Depois de mais uns 5 anos vc consegue virar titular de uma vara e antes de completar 60, com sorte, vc é promovido a Desembargador.

Então... antes de criticar um juiz que se desdobra para dar conta de 3 varas ao mesmo tempo e fazer 2 audiencias marcadas para a mesma hora e data, como vejo aqui, vc faz isso tudo e vê se vale a pena... continuar lendo

Trabalho escravo? Aposto que este juiz que tem carro com ar condicionado, casa, roupas boas, um plano de saúde, pode viajar, comprar a alimentação que deseja sem ter que olhar a conta antes.

Trabalho escravo é coisa séria, são aquelas pessoas que recebem R$1 por dia de trabalho e saem devendo R$50 pois o "patrão" ainda os cobra para trabalhar.

São aqueles que passam o dia trabalhando, sem descanso, sem poder voltar para casa, sem poder ver a família, sem ter roupa, sem ter o que comer no dia.

Acredito que o acúmulo de função não seja uma atitude legal, mas considerar-se escravo? continuar lendo

Belo posicionamento! Trabalho escravo é aquele "forçado" e não o mero (ainda que seja enorme) acúmulo de serviço. continuar lendo

Então...se receberem a gratificação por substituição, estaria tudo bem a falta de estrutura e o trabalho escravo, descaracterizado? Sei.

Novamente, tapamos o sol com a peneira. continuar lendo

Ao meu ver só estão tentando aumentar o salário, pois se de fato estivessem trabalhando como escravos, buscariam melhores condições de trabalho e não só de salário. continuar lendo

Pois é, Vinicius. Parece-me uma compensação incoerente. A falta de estrutura material e humana do Judiciário claramente prejudica a prestação jurisdicional. Que os juízes e servidores estão sobrecarregados, é fato que implica em direcionar o orçamento exatamente para evitar excesso de trabalho, bem como lentidão processual. Melhor é planejar o orçamento para evitar substituições - através de novas contratações - do que pensar tão somente nelas. Um juiz sobrecarregado, que está trabalhando por dois, jamais prestará um serviço eficaz - ele é gente, não trabalha 24hrs. Pior que o Tribunal responsável se acomoda em cumular funções aos magistrados e servidores, sustentando situações como essas... continuar lendo

A situação merece análise, pois, é no mínimo injusto com o magistrado, e necessita de solução, no entanto:

Só ele está nessa situação????
E o apego ao trabalho?
O Juramento de fidelidade e compromisso?
As Ferramentas legais para discussão salarial?

Surtou?

Vejo muitas decisões contra pessoas que laboram em situações críticas de insalubridade e periculosidade, e com salários ridículos, que simplesmente afirmam ser natural circunstancia da profissão que exercem...

Tive um cliente, Policial Ambiental, que autuou uma empresa mineradora, cujo o proprietário forjou um flagrante mal sucedido de corrupção e acharco (que foi apurado pela corregedoria militar) cuja decisão, em ultima instancia sobre o dano moral causado, afirmava que acusar o policial é um tipo de defesa e não gera dano....
Deve ser do mesmo tipo de magistrado que esperneia no caso acima...
No dos outros é refresco...

E ca pra nós, bastava diminuir o ritmo de trabalho e justificar a falta de mão de obra em razão do volume de serviço...

Mas, quem não chora, não mama....rs continuar lendo

Não entendi a lógica da reclamação. Então, se está fazendo trabalho escravo (trabalhando desumanamente sobrecarregado) por um salário X e passar a receber um salário X + Y aí o trabalho deixará de ser excessivo? Ah, sim, o trabalho será em dobro, mas, pouco importa né, já que se está ganhando o dobro, pouco importa se irá realizá-lo ou não. Não seria mais justo, ao invés de pagar acúmulo se contratasse mais? Afinal, não adianta só o problema do juiz, mas também daqueles que procuram o Poder Judiciário. continuar lendo

E o auxílio moradia, no valor de quase R$5000,00 por mês?
E o bolsa livro, no valor de R$3000,00 por ano?
E os pagamentos retroativos de auxílio alimentação?
Tá chorando de barriga cheia, sem vergonha! continuar lendo

Bolsa-livro? Os livros não são adquiridos através do Fundo de Aparelhamento do Judiciário não? Em Niterói tem isso mesmo? Meu Deus do céu. continuar lendo

Essa escravidão com 60 dias de férias é muito ruim mesmo... continuar lendo

Cyro Brito, 60 dias mais o recesso de 20 dias de dezembro a janeiro. Esqueceu esse pequeno detalhe. continuar lendo

Sempre disse. O Poder mais corrupto desse país. Por isso é que estamos no fundo do poço. continuar lendo

Seja sem vergonha como ele e estude metade do que ele estudou para ter isso tudo, aí vc me diz se é jutou ou não. Realmente possuem bastantes privilégios, mas e se fosse vc? continuar lendo

Desculpe-me, Morelli. Mas até parece que os juízes são os mais estudiosos do mundo. Tem muita gente, em outras áreas, que estudou mais do que muitos juízes e são pouco reconhecidos ($$$). O que acho estranho é a luta para aumentar salário (como se fosse pouco) ao invés de lutar por mais contratações. continuar lendo

Fosse eu trabalhava, respeitava o contribuinte e dava graça a Deus. continuar lendo